Para que os cristãos de África dêem testemunho do amor e da fé em Jesus Cristo no meio dos conflitos político‐religiosos.
«A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). Dou-vos as boas-vindas, a vós que viestes em peregrinação ad limina Apostolorum até aos túmulos dos Apóstolos, por cuja intercessão nos encontramos a rezar aqui, enquanto procurais unidade e força inspiradas pela sua vida oferecida ao serviço de Cristo e da sua Igreja. Agradeço a D. Bhasera as cordiais palavras de saudação proferidas em nome dos Bispos e de todos os católicos do Zimbábue; possam estes dias de oração e de solidariedade entre os seus pastores e o Sucessor de Pedro ser um tempo de fecunda renovação espiritual.
Podemos louvar a Deus pelo testemunho autêntico da morte e ressurreição de Jesus, oferecido pela Igreja no Zimbábue, florescida no início da história cristã na África meridional. Os vossos predecessores no episcopado, juntamente com os seus sacerdotes, religiosos e colaboradores leigos — muitos dos quais são missionários provenientes de países distantes — dedicaram a própria vida a fazer com que a fé pudesse radicar-se e prosperar na vossa terra. Em todo o Zimbábue as estações missionárias cresceram até se tornar paróquias e dioceses. A Igreja tornou-se indígena, uma árvore jovem e frondosa no jardim do Senhor, cheia de vida e de frutos abundantes. Gerações de zimbabuenses — entre os quais diversos líderes políticos — foram educadas em escolas pertencentes à Igreja. Durante muitas décadas, os hospitais católicos curaram enfermos, proporcionando-lhes a cura física e psicológica. Na vossa terra nasceram numerosas vocações ao sacerdócio e à vida religiosa, e ainda continuam a florescer. Por todas estas graças, e não obstante os numerosos desafios, a nossa prece de acção de graças eleva-se ao Senhor como uma imolação na noite.
A Igreja no vosso país permaneceu ao lado do seu povo, tanto antes como depois da independência, inclusive durante estes anos de imenso sofrimento em que milhões de pessoas abandonaram o país devido à frustração e ao desespero, em que se perderam muitas vidas, em que se derramaram lágrimas copiosas. No exercício do vosso ministério profético, destes uma voz forte a todas as pessoas em dificuldade no vosso país, especialmente aos oprimidos e aos refugiados. Penso de maneira particular na vossa Carta pastoral de 2007, Deus escuta o clamor dos oprimidos: «O povo que sofre no Zimbábue geme em agonia: “Sentinela, Sentinela, em que pé está a noite?”». Nela demonstrastes que a crise é tanto espiritual como moral, estendendo-se desde os tempos coloniais até ao presente e que, em última análise, as «estruturas de pecado» inseridas na ordem social estão radicadas no pecado pessoal, exigindo por isso de todos uma profunda conversão pessoal e um renovado sentido moral, iluminado pelo Evangelho.
Os cristãos estão presentes em todos os âmbitos do conflito no Zimbábue e, por conseguinte, exorto-vos a orientar todos com grande ternura rumo à unidade e à purificação: trata-se de um povo tanto negro como branco, alguns mais ricos mas na grande maioria mais pobres, pertencentes a numerosas tribos; os seguidores de Cristo pertencem a todos os partidos políticos, alguns em posição de autoridade, muitos não. Mas juntos, como único povo peregrino de Deus, têm necessidade de conversão e de purificação para se tornar cada vez mais plenamente «um só corpo, um só espírito em Cristo» (cf. Ef 4, 4). Através da pregação e das obras de apostolado, possam as vossas Igrejas locais demonstrar que a «reconciliação não é um gesto isolado, mas um longo processo em virtude do qual cada um se vê restabelecido no amor; um amor que cura por acção da Palavra de Deus» (Africae munus, 34).
Enquanto a fidelidade dos zimbabuenses já é um bálsamo derramado sobre algumas destas feridas nacionais, estou consciente de que muitas pessoas alcançaram os próprios limites humanos e já não sabem para onde ir. No meio de tudo isto, peço-vos que animeis os fiéis a nunca perderem de vista os modos como Deus presta ouvidos às suas súplicas e atende as suas preces porque, como vós mesmos escrevestes, não pode deixar de ouvir o clamor dos pobres. Neste tempo de Páscoa, enquanto a Igreja no mundo inteiro celebra a vitória de Cristo sobre a força do pecado e da morte, o Evangelho da Ressurreição, cuja proclamação vos foi confiada, deve ser anunciado e vivido de maneira clara no Zimbábue. Nunca esqueçamos a lição da Ressurreição: «Num campo arrasado, volta a aparecer a vida, tenaz e invencível. Haverá muitas coisas más, mas o bem sempre tende a reaparecer e espalhar-se. Cada dia, no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos dramas da história» (Evangelii gaudium, 276).
Proclamai intrepidamente este Evangelho de esperança, anunciando a mensagem do Senhor no meio das incertezas da nossa época, pregando de maneira incansável o perdão e a misericórdia de Deus. Continuai a animar os fiéis a renovar o seu encontro pessoal com o Senhor ressuscitado e a voltar a frequentar os sacramentos, especialmente da Reconciliação e da Sagrada Eucaristia, fonte e ápice da nossa vida cristã. […]
DISCURSO AOS BISPOS DO ZIMBÁBUE
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»
PAPA FRANCISCO
2 de Junho de 2014
© Copyright 2014 ‐ Libreria Editrice Vaticana
COMENTÁRIO
De evangelização compete a todos os fiéis cristãos
Como indiquei claramente no concílio Vaticano II, a obra de evangelização não é reservada ao clero e aos religiosos, mas compete a todos os fiéis cristãos, que são chamados a proclamar o amor salvífico que experimentaram no Senhor Jesus (cf.Apostolicam Actuositatem, 6). Aprecio os esforços que realizastes a fim de criar novas oportunidades para a formação catequética dos fiéis e para ir ao encontro dos jovens, que se encontram naquele momento decisivo da sua vida em que são desafiados a aprofundar a sua relação com Cristo e com a sua Igreja e em que procuram construir uma família própria. Perante os numerosos desafios na sociedade contemporânea, entre os quais uma cultura cada vez mais secularizada e sempre menos oportunidades de um trabalho digno, é fundamental que homens e mulheres leigos sábios e comprometidos guiem os jovens no discernimento que devem dar à própria vida e garantir-se um futuro. Para uma abordagem catequética mais eficaz é importante também continuar a identificar e a preparar líderes leigos qualificados, a fim de ajudar a formar os fiéis e, desta maneira, tornar presente «a fragrância da presença solidária de Jesus e o seu olhar pessoal» (Evangelii Gaudium, 169).
Queridos irmãos Bispos, juntamente com os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos das vossas Igrejas locais, sois chamados a espalhar esta fragrância de Cristo na Etiópia e na Eritreia (cf. 2 Cor 2, 14). Muitos anos de conflito e tensões constantes, além de uma pobreza generalizada e condições de seca, causaram tanto sofrimento às pessoas. Agradeço-vos pelos generosos programas sociais que, inspirados no Evangelho, ofereceis em colaboração com as diversas entidades religiosas, caritativas e governamentais, que visam aliviar este sofrimento. Penso em particular nas numerosas crianças que servis, as quais sofrem a fome e ficaram órfãos por causa da violência e da pobreza. Penso também nos jovens que, como muitos amigos seus e familiares, gostariam possivelmente de fugir do próprio país em busca de oportunidades e correm o risco de perder a vida em viagens perigosas. E naturalmente devemos sempre recordar os numerosos idosos que, entre tantas dificuldades, podem facilmente ser esquecidos. Os vossos esforços em relação a eles, que dão um testemunho tão forte do amor de Deus entre vós, são uma graça extraordinária para as pessoas. Na vossa preocupação amorosa para com os pobres e oprimidos, continuai a procurar novas oportunidades para cooperar com as autoridades civis na promoção bem comum.
DISCURSO AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA ETIÓPIA E DA ERITREIA
POR OCASIÃO DA VISITA «AD LIMINA APORTOLORUM»
PAPA FRANCISCO
9 de Maio de 2014
© Copyright 2014 ‐ Libreria Editrice Vaticana