Para que os cristãos discriminados ou perseguidos por causa da sua fé permaneçam fortes e fiéis ao Evangelho, graças à oração incessante de toda a Igreja.

Hoje os cristãos mártires e perseguidos são mais numerosos do que nos primórdios da Igreja e em certos países é até proibido rezar em comunidade. O trecho do livro da Sabedoria (2, 1.12-22) proclamado na liturgia revela «como é o coração dos ímpios, de quantos se afastaram de Deus e se apoderaram da religião», e como é a sua «atitude em relação aos profetas», até à perseguição. São pessoas conscientes de estar diante de um justo, como diz a Escritura: «Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas obras».

Cercar, explicou o Papa, significa «difundir falatórios e calúnias». Assim, «preparam-se para destruir o justo». Não podem aceitar que haja um justo «contrário às nossas obras; ele censura-nos por violar a lei e acusa-nos de contrariar a nossa educação». Palavras que delineiam o perfil dos profetas perseguidos «em toda a história da salvação». Foi Jesus quem «o disse aos fariseus», como narra «o célebre capítulo 23 de são Mateus, cuja leitura nos fará bem». Ele é explícito: «Os vossos pais mataram os profetas mas vós, para eliminar a sua culpa, mandais construir um bonito sepulcro para os profetas!».

Estamos diante de «uma hipocrisia histórica». Na Igreja há «perseguidos fora e dentro». Os santos «foram perseguidos»: quando lemos as suas vidas, vemos tantas «incompreensões e perseguições», pois dado que eram profetas diziam coisas «muito duras». E «tantos pensadores na Igreja foram perseguidos»: «Neste momento penso num deles, não muito distante de nós: um homem de boa vontade, um profeta autêntico que, com os seus livros, admoestava a Igreja a não se afastar do caminho do Senhor. Foi imediatamente chamado; os seus livros foram proibidos e tiraram-lhe a cátedra, e foi assim que este homem acabou a sua vida, há pouco tempo. Hoje ele é beato». Mas como, ontem era herege e hoje é beato?». Sim, «ontem quantos tinham o poder queriam silenciá-lo, porque não gostavam do que ele dizia. Hoje a Igreja, que graças a Deus sabe arrepender-se, diz: não, este homem é bom!». Os cristãos são perseguidos «porque a esta sociedade mundana e tranquila que não quer problemas dizem a verdade e anunciam Jesus Cristo». Hoje nalguns países existe «até a pena de morte, a prisão por conservar o Evangelho em casa, por ensinar o catecismo!». «Um católico dessas regiões disse-me que é proibido rezar juntos! Só é possível rezar sozinho e escondido». Para celebrar a Eucaristia organizam «uma festa de aniversário!» para eludir a polícia!». O Papa concluiu pedindo ao Senhor «a graça de ir pelo seu caminho, até com a cruz da perseguição».

 

MEDITAÇÕES MATUTINAS
PAPA FRANCISCO
4 de Abril de 2014

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COMENTÁRIO

Martírio com luvas brancas

Ainda hoje estamos no tempo dos mártires: os cristãos são perseguidos no Médio Oriente onde são assassinados ou obrigados a fugir, também «de forma elegante, com luvas brancas». No dia em que a Igreja faz memória dos mártires dos primeiros séculos, o Papa Francisco convidou a rezar «pelos nossos irmãos que hoje são perseguidos». Porque, afirmou, hoje «não existem menos mártires» do que nos tempos de Nero. Portanto, foi precisamente ao martírio, à sua actualidade e ao que o caracteriza, que o Pontífice dedicou a celebração eucarística. «Na oração no início da missa — disse o Papa — assim invocámos o Senhor: “Senhor, que fecundastes com o sangue dos mártires os primeiros rebentos da Igreja de Roma”». É uma invocação apropriada, explicou, para a comemoração dos «primeiros mártires desta Igreja».

É particularmente significativo, observou o Papa, que «o verbo que usamos para invocar o Senhor é fecundar». Portanto, «fala-se de crescimento e de uma planta: isto faz-nos pensar nas várias vezes em que Jesus dizia que o Reino dos céus é como uma semente». Também «o apóstolo Pedro, na sua carta, nos diz que “fomos regenerados como uma semente incorruptível”». Numa parábola, Jesus explica precisamente que «o Reino dos céus é como um homem que lança a semente na terra, depois vai para casa, repousa, trabalha, vigia, de noite e de dia, e a semente cresce, brota, sem que ele saiba como».

Por conseguinte, a questão central, afirmou o Papa, consiste em perguntar-se «sobre o modo como fazer para que esta semente da palavra de Deus cresça e se torne o Reino de Deus, cresça e se torne Igreja». O bispo de Roma indicou «as duas fontes» que realizam esta obra: «o Espírito Santo — a sua força — e o testemunho do cristão».

Em primeiro lugar, explicou o Papa, «sabemos que não há crescimento sem o Espírito». Mas, prosseguiu, «é necessário também o testemunho do cristão». E «quando o testemunho chega ao final, quando as circunstâncias históricas nos pedem um testemunho forte, ali encontramos os mártires: as maiores testemunhas!». Eis então que «aquela Igreja é irrigada com o sangue dos mártires». Exactamente «esta é a beleza do martírio: começa com o testemunho, dia após dia, e depois pode acabar com o sangue, como Jesus, o primeiro mártir, a primeira testemunha, a testemunha fiel». Porém, para ser verdadeiro, o testemunho «deve ser incondicional» afirmou o Pontífice. O Evangelho proposto pela liturgia hodierna (Mt 8, 18-22) é claro a este propósito. O Papa convidou portanto a pensar «nos numerosos mártires de hoje que oferecem a sua vida a favor da fé: os cristãos perseguidos». «Pensemos no Médio Oriente» e também «nos cristãos afastados de forma elegante: também aquela é uma perseguição!».

MEDITAÇÕES MATUTINAS
PAPA FRANCISCO
30 de Junho de 2014
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