Para que os pequenos agricultores recebam a justa compensação pelo seu precioso trabalho.
129. Para se conseguir continuar a dar emprego, é indispensável promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial. Por exemplo, há uma grande variedade de sistemas alimentares rurais de pequena escala que continuam a alimentar a maior parte da população mundial, utilizando uma porção reduzida de terreno e de água e produzindo menos resíduos, quer em pequenas parcelas agrícolas e hortas, quer na caça e recolha de produtos silvestres, quer na pesca artesanal. As economias de larga escala, especialmente no sector agrícola, acabam por forçar os pequenos agricultores a vender as suas terras ou a abandonar as suas culturas tradicionais. As tentativas feitas por alguns deles no sentido de desenvolverem outras formas de produção, mais diversificadas, resultam inúteis por causa da dificuldade de ter acesso aos mercados regionais e globais, ou porque a infra-estrutura de venda e transporte está ao serviço das grandes empresas. As autoridades têm o direito e a responsabilidade de adoptar medidas de apoio claro e firme aos pequenos produtores e à diversificação da produção. Às vezes, para que haja uma liberdade económica da qual todos realmente beneficiem, pode ser necessário pôr limites àqueles que detêm maiores recursos e poder financeiro. A simples proclamação da liberdade económica, enquanto as condiçõesreaisimpedem que muitos possam efectivamente ter acesso a ela e, ao mesmo tempo, se reduz o acesso ao trabalho, torna-se um discurso contraditório que desonra a política. A actividade empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum.
CARTA ENCÍCLICA
LAUDATO SI’
FRANCISCO
24 de Maio de 2015
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COMENTÁRIO
Projectos de “crédito rural”
[…] Louvável é a evidência dada pelo IFAD à promoção das oportunidades de emprego no interior das comunidades rurais, para que se tornem, a longo prazo, independentes da ajuda externa. A assistência oferecida aos produtores locais ajuda a construir a economia e contribui para o desenvolvimento global da nação interessada. Neste sentido, os projectos de “crédito rural”, elaborados para assistir os pequenos proprietários de terra e os trabalhadores agrícolas que não possuem a sua própria terra, podem incentivar a economia mais vasta e oferecer uma maior segurança alimentar para todos. Estes projectos ajudam também as comunidades indígenas a florescer na sua terra e a viver em harmonia com a sua cultura tradicional, não sendo forçadas a desarraigar-se para ir procurar um emprego nas cidades superpovoadas, repletas de problemas sociais, onde com frequência devem padecer condições de vida miseráveis.
Esta abordagem tem o mérito especial de fazer com que o sector agrícola recupere o seu justo lugar na economia e no tecido social das nações em fase de desenvolvimento. Aqui, uma contribuição válida pode ser oferecida pelas Organizações Não-Governamentais, entre as quais algumas têm vínculos estreitos com a Igreja católica e estão comprometidas na aplicação do seu ensinamento social. O princípio da subsidiariedade exige que cada grupo no seio da sociedade seja livre de oferecer a própria contribuição para o bem de todos. Com demasiada frequência, aos trabalhadores agrícolas nas nações em fase de desenvolvimento é negada esta oportunidade, quando o seu trabalho é avidamente explorado e o seu produto é desviado para mercados distantes, tendo como resultado pouco ou nenhum benefício para a própria comunidade local.
Há cerca de cinquenta anos, o meu predecessor, o Beato João XXIII disse quanto segue acerca da tarefa de cultivar a terra: “Os lavradores podem facilmente convencer-se de quanto é nobre o seu trabalho: vivem no templo majestoso da criação… Esse trabalho manifesta igualmente a dignidade dos que o realizam” (Mater et magistra, 143-144). Todo o trabalho humano é uma participação na providência criativa de Deus Todo-Poderoso, mas o trabalho agrícola é-o de maneira preeminente. Uma sociedade verdadeiramente humana saberá sempre apreciar e recompensar de maneira apropriada a contribuição feita pelo sector agrícola. Se for adequadamente ajudado e preparado, ele terá a potencialidade de tirar uma nação da pobreza e de lançar os fundamentos para uma prosperidade cada vez maior. […]
DISCURSO AO CONSELHO DOS GOVERNADORES
DO FUNDO INTERNACIONAL
PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA*
BENTO XVI
20 de Fevereiro de 2009
© Copyright 2009 – Libreria Editrice Vaticana