

Para que os cristãos vivam o seguimento do Evangelho dando testemunho de fé, de honestidade e de amor pelo próximo.
Destinatários da boa nova que Deus é amor e, em Jesus Cristo, comunica-se à humanidade, são todos os homens, cada homem e mulher que vive neste mundo; e destinatário é o homem todo, na integralidade da sua pessoa, da sua história, da sua cultura.
«Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8), diz Jesus. Nestas palavras está o segredo da evangelização, que é comunicar o Evangelho no estilo do Evangelho, ou seja, a gratuitidade: a gratuitidade, sem condições. Gratuitidade. A alegria do dom recebido por mero amor comunica-se com amor. Gratuitidade e amor. Só quem experimentou esta alegria a pode comunicar, aliás não pode deixar de a comunicar, porque «o bem tende sempre a comunicar-se… Comunicando-o o bem ganha raiz e desenvolve-se» (Evangelii gaudium, 9). Encorajo-vos a prosseguir pelo caminho que o pe. Alberione abriu e a vossa Família percorreu até agora, tendo sempre o olhar dirigido para horizontes amplos. Nunca devemos esquecer que «a evangelização está essencialmente conexa com a proclamação do Evangelho a quantos não conhecem Jesus Cristo ou sempre o rejeitaram. Muitos deles procuram Deus secretamente, movidos pela nostalgia do seu rosto, também em países de antiga tradição cristã. Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar sem excluir ninguém» (ibid., 14). Este estímulo às «nações», mas também às periferias existenciais, este estímulo «católico», vós tende-lo no sangue, no «adn», pelo facto de o vosso Fundador ter sido inspirado pela figura e pela missão do apóstolo Paulo.
O Concilio Vaticano II apresentou-nos a Igreja como povo a caminho rumo a uma meta que tudo supera e tudo realiza em Deus e na sua glória. Esta visão da Igreja a caminho é expressiva da esperança cristã; com efeito, o fim último do agir cristão na terra é a posse da vida eterna. Portanto, o nosso ser Igreja a caminho, enquanto nos radica no compromisso de anunciar Cristo e o seu amor por todas as criaturas, impede-nos de permanecer prisioneiros das estruturas terrenas e mundanas; mantém aberto o espírito e torna-nos capazes de perspectivas e solicitações que encontrarão o seu cumprimento na bem-aventurança do Senhor.
Desta perspectiva de esperança, as pessoas consagradas são testemunhas especiais, sobretudo com um estilo de vida que se distingue pela alegria. A presença dos religiosos é sinal de alegria. Aquela alegria que brota da experiência íntima de Deus que enche o nosso coração e nos torna deveras felizes, de modo que não precisemos de procurar noutras partes a nossa alegria. Outros elementos importantes que alimentam a alegria dos religiosos são a fraternidade genuína na comunidade e a oblatividade completa no serviço à Igreja e aos irmãos, sobretudo aos mais necessitados.
E aqui, é preciso mencionar o amor pela unidade da Igreja. Todo o vosso trabalho, o zelo apostólico, deve ser cheio deste amor pela unidade. Nunca favoreçais os conflitos, nunca imiteis os meios de comunicação que só procuram o espectáculo dos conflitos e provocam o escândalo na alma. Favorecei sempre a unidade da Igreja, a unidade que Jesus pediu ao Pai como dom para a sua esposa.
O beato Giacomo Alberione entrevia no anúncio de Cristo e do Evangelho às multidões populares a caridade mais autêntica e necessária que se pudesse oferecer aos homens e às mulheres sedentos de verdade e de justiça. Ele foi tocado em profundidade pela palavra de São Paulo: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho» (1 Cor 9, 16) e dele fez o ideal da própria vida e missão. Seguindo os passos de Jesus e a imitação do Apóstolo das nações, soube ver as multidões como ovelhas à deriva e necessitadas de orientações certas no caminho da vida. Por conseguinte, empregou a existência inteira a repartir com eles o pão da Palavra mediante linguagens adequadas aos tempos. Assim também vós sois chamados a empregar-vos ao serviço das nações de hoje às quais o Espírito vos envia, com criatividade e fidelidade dinâmica ao vosso carisma, detectando as formas mais adequadas para anunciar Jesus. Os vastos horizontes da evangelização e a urgente necessidade de testemunhar a mensagem evangélica. Não só dizê-lo. Testemunhai-o com a própria vida. E este testemunho constitui para todos o campo do vosso apostolado. Muitos ainda esperam conhecer Jesus Cristo. A fantasia da caridade não conhece limites e sabe abrir caminhos sempre novos para levar o sopro do Evangelho às culturas e aos mais variados âmbitos sociais.
Uma missão tão urgente como esta exige conversão pessoal e comunitária incessante. Só corações totalmente abertos à acção da Graça são capazes de interpretar os sinais dos tempos e de ouvir os apelos da humanidade necessitada de esperança e de paz. Na vossa sequela Christi e no vosso testemunho, ser-vos-á certamente de ajuda o Ano da Vida Consagrada, que está para iniciar daqui a poucos dias.
ENCONTRO COM A FAMÍLIA PAULINA
PAPA FRANCISCO
27 de Novembro de 2014
© Copyright 2014 – Libreria Editrice Vaticana
Comentário
“A paga do discípulo”
O sofrimento faz parte da vida; mas para o cristão, chamado a seguir o mesmo caminho de Cristo, ele torna-se mais um valor. Muito mais quando se apresenta sob forma de perseguição, por causa do espírito do mundo que não tolera o testemunho cristão. É este o sentido da reflexão proposta pelo Papa na manhã de terça-feira, 28 de Maio, durante a missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae.
Ao comentar o evangelho do dia (Marcos 10, 28-31), o Pontífice retomou a reflexão sobre o diálogo de Jesus com o jovem rico que lhe perguntava como conquistar a vida eterna, recordando que Pedro tinha ouvido as admoestações de Jesus precisamente em relação às riquezas, que tornam «tão difícil entrar no reino de Deus».
Depois de ter ouvido isto, Pedro pergunta ao Senhor: «Está bem, mas nós?» Nós deixamos tudo por ti. Qual será o salário? Como será o prémio?». Talvez a resposta de Jesus «seja um pouco irónica: claro, também tu, e todos os que deixaram casa, irmãos, irmãs, mãe, filho, campos, receberão o cêntuplo», mas informa-os que se deverão confrontar «com a perseguição», descrita como o salário, ou melhor «a paga do discípulo».
Seguir Jesus não pode ser só uma expressão cultural, nem um modo para adquirir poder. O Pontífice observou que a «história da Igreja está cheia de pessoas assim, começando por alguns imperadores, governantes e muitas pessoas. E também, não quero dizer muitos, mas alguns , sacerdotes e bispos. Muitos cristãos, tentados pelo espírito do mundo – acrescentou – pensam que seguir Cristo» seja bom porque «assim podem fazer carreira, ter sucesso».
Eis então o convite a reflectir sobre a resposta de Jesus: «Não há ninguém que tenha deixado casa ou irmãos, irmãs, mãe, pai ou filhos ou campos por minha causa ou por causa do Evangelho, que não receba já agora, neste tempo, o cêntuplo, em casas, irmãos… mas em perseguições. Não o esqueçamos».
Seguir Jesus com amor passo a passo: é este o seguimento de Cristo, concluiu o Santo Padre. Mas o espírito do mundo continuará a não tolerá-lo e fará sofrer os cristãos. Trata-se contudo de um sofrimento como o que foi suportado por Jesus: «Peçamos esta graça: seguir Jesus pelo caminho que ele nos mostrou, que ele nos ensinou. Isto é bom: ele nunca nos deixa sozinhos, nunca. Está sempre connosco».
MEDITAÇÕES MATUTINAS
PAPA FRANCISCO
28 de Maio de 2013
© Copyright 2013 – Libreria Editrice Vaticana