

Para que seja eliminada em todo o mundo a praga dos meninos‐soldados.
[…] O Menino Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo. O Anjo disse aos pastores: «Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino…».
Também hoje as crianças são um sinal. Sinal de esperança, sinal de vida, mas também sinal de «diagnóstico» para compreender o estado de saúde duma família, duma sociedade, do mundo inteiro. Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano. Pensemos na obra que realiza o Instituto Effathá Paulo VI a favor das crianças surdas-mudas palestinenses: é um sinal concreto da bondade de Deus. É um sinal concreto de que a sociedade melhora.
Hoje Deus repete também a nós, homens e mulheres do século XXI: «Isto vos servirá de sinal», procurai o menino…
O Menino de Belém é frágil, como todos os recém-nascidos. Não sabe falar e, no entanto, é a Palavra que Se fez carne e veio para mudar o coração e a vida dos homens. Aquele Menino, como qualquer criança, é frágil e precisa de ser ajudado e protegido. Também hoje as crianças precisam de ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno.
Infelizmente, neste mundo que desenvolveu as tecnologias mais sofisticadas, ainda há tantas crianças em condições desumanas, que vivem à margem da sociedade, nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais. Ainda hoje há tantas crianças exploradas, maltratadas, escravizadas, vítimas de violência e de tráficos ilícitos. Demasiadas são hoje as crianças exiladas, refugiadas, por vezes afundadas nos mares, especialmente nas águas do Mediterrâneo. De tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que Se fez Menino.
E interrogamo-nos: Quem somos nós diante de Jesus Menino? Quem somos nós diante das crianças de hoje? Somos como Maria e José que acolhem Jesus e cuidam d’Ele com amor maternal e paternal? Ou somos como Herodes, que quer eliminá-Lo? Somos como os pastores, que se apressam a adorá-Lo prostrando-se diante d’Ele e oferecendo-Lhe os seus presentes humildes? Ou então ficamos indiferentes? Por acaso limitamo-nos à retórica e ao pietismo, sendo pessoas que exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro? Somos capazes de permanecer junto delas, de «perder tempo» com elas? Sabemos ouvi-las, defendê-las, rezar por elas e com elas? Ou negligenciamo-las, preferindo ocupar-nos dos nossos interesses?
«Isto nos servirá de sinal: encontrareis um menino…». Talvez aquela criança chore! Chora porque tem fome, porque tem frio, porque quer colo… Também hoje as crianças choram (e choram muito!), e o seu choro interpela-nos. Num mundo que descarta diariamente toneladas de alimentos e remédios, há crianças que choram, sem ser preciso, por fome e doenças facilmente curáveis. Num tempo que proclama a tutela dos menores, comercializam-se armas que acabam nas mãos de crianças-soldado; comercializam-se produtos confeccionados por pequenos trabalhadores-escravos. O seu choro é sufocado: o choro destes meninos é sufocado! Têm que combater, têm que trabalhar, não podem chorar! Mas choram por elas as mães, as Raquéis de hoje: choram os seus filhos, e não querem ser consoladas (cf. Mt 2, 18).
«Isto vos servirá de sinal»: encontrareis um menino. O Menino Jesus nasceu em Belém, cada criança que nasce e cresce em qualquer parte do mundo é sinal de diagnóstico, que nos permite verificar o estado de saúde da nossa família, da nossa comunidade, da nossa nação. Deste diagnóstico franco e honesto, pode brotar um novo estilo de vida, onde as relações deixem de ser de conflito, de opressão, de consumismo, para serem relações de fraternidade, de perdão e reconciliação, de partilha e de amor.
PEREGRINAÇÃO DE SUA SANTIDADE À TERRA SANTA
PAPA FRANCISCO
25 de Maio de 2014
© Copyright 2014 – Libreria Editrice Vaticana
Comentário
«Dos direitos dos menores»
[…] Apraz-me recordar que numa sociedade bem constituída, os privilégios devem ser apenas para as crianças e para os idosos, porque o futuro de um povo está nas suas mãos! As crianças, porque sem dúvida terão a força para fazer progredir a história, e os idosos, porque têm em si a sabedoria de um povo e devem transmitir esta sabedoria. […]
Nos nossos dias, é importante levar em frente programas contra o trabalho escravo, contra o recrutamento de crianças-soldado e todos os tipos de violência contra menores.
Em positivo, é necessário defender o direito que as crianças têm de crescer numa família, com um pai e com uma mãe, capazes de criar um ambiente propício para o seu desenvolvimento e amadurecimento, continuando a amadurecer na relação, no confronto com aquilo que representa a masculinidade e a feminilidade de um pai e de uma mãe, e assim preparando a maturidade afectiva.
Isto comporta ao mesmo tempo a defesa do direito dos pais à educação moral e religiosa dos próprios filhos. E a este propósito, gostaria de manifestar a minha rejeição de qualquer tipo de experimentação educativa com as crianças. Com as crianças e os jovens não se pode fazer experimentos. Elas não são cobaias de laboratório! Os horrores da manipulação educativa que vivemos nas grandes ditaduras genocidas do século XX não desapareceram; conservam a sua actualidade sob outras aparências e propostas que, com a pretensão de modernidade, impelem as crianças e os jovens a percorrer o caminho ditatorial do «pensamento único». Há pouco mais de uma semana, um grande educador disse-me: «Às vezes não sabemos se com estes programas — referindo-se a projectos concretos de educação — mandamos uma criança para a escola ou para um campo de reeducação».
Trabalhar pelos direitos humanos pressupõe que mantenhamos sempre viva a formação antropológica, sejamos bem preparados a respeito da realidade da pessoa humana e saibamos responder aos problemas e aos desafios das culturas contemporâneas e da mentalidade propagada através dos meios de comunicação. Obviamente, não se trata de nos refugiarmos, de nos escondermos em ambientes protegidos, que nos dias de hoje são incapazes de dar vida, que estão ligados a culturas já ultrapassadas… Não, isto não, não funciona! Mas devemos enfrentar com os valores positivos da pessoa humana os novos desafios que nos apresenta a nova cultura. Para vós, trata-se de oferecer aos vossos dirigentes e agentes uma formação permanente sobre a antropologia da criança, porque é ali que os direitos e deveres encontram o seu fundamento. Dela depende a imposição dos programas educativos, que obviamente devem continuar a progredir, a amadurecer e a adaptar-se aos sinais dos tempos, respeitando contudo sempre a identidade humana e a liberdade de consciência. […]
DISCURSO A UMA DELEGAÇÃO DO DEPARTAMENTO
INTERNACIONAL CATÓLICO PARA A INFÂNCIA (BICE)
PAPA FRANCISCO
11 de Abril de 2014
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